sábado, 31 de agosto de 2013

A pregar no deserto

Tenho-me sentido a pregar no deserto! Até o Pereira já desistiu, não vos conseguimos sensibilizar para as virtudes da comunicação nas redes sociais. E os blogs até são a rede social mais convencional, menos à frente do que o twitter ou o Facebook, por exemplo. Eu próprio não alinho com estas últimas. Mas talvez seja mesmo melhor ficarem pelos meios de comunicação mais adequados a cinquentões, como o telemóvel ou então o e-mail, o standard da comunicação digital!

Estou a pensar ativar a funcionalidade de deixar os motores de pesquisa encontrar o blogue e, desta forma, passar do "deserto" para as autoestradas da informação, no mundo da comunicação global. O problema é que depois podem começar a aparecer comentários como os que vemos nos sítios de jornais, em especial dos desportivos, de teenagers parvos e convencidos, ou de tipos broncos, mal-educados ou racistas. Ou então, aquelas mensagens oportunistas, a aliciar para irmos a determinados sítios de jogos completamente grátis! Isto para não falar das mensagens de phishing ou daquela publicidade que fala dum método estranho descoberto pelos "cientistas do Boston" para perder 10 Kg numa semana.

Que dilema!... Para terminar com o tédio, vou mas é ver como estão as notícias para o dérbi de mais logo á noite. Hoje ninguém para o Sporting! O Maxi e o Cortez ou lá como se chamam esses sul-americanozecos só os vão ver a passar. E o Jorge Jesus vai ter de admitir no fim que "poderamos ganhar mas perderamos porque o Sporting sera mais forte" e o BDC vai dizer que o Sporting é o maior e que Porto e Benfica que tenham cuidado até ao fim do campeonato pois “até os comemos”!

domingo, 11 de agosto de 2013

A igreja e parque do Sameiro.



Chocou-me ontem a afirmação do Francisco que o valor arquitetónico da igreja do Sameiro, em termos de interesse nacional, é zero. Pode não ser dos monumentos mais ricos em termos arquitetónicos comparativamente às igrejas Matriz, Misericórdia, de Paço de Sousa ou da de Cête, mas tem um valor histórico e sentimental incomparáveis. Nem oito nem oitenta, zero é que não! Passo a transcrever um breve trecho do capítulo Santuário da S. da Piedade e Santos Passos, retirado do livro Penafiel (Soeiro, Teresa; “Penafiel”, Editorial Presença, Cidades e Vilas de Portugal, pp 93 a 96) e que faz a história da sua construção.
“O santuário do Monte de S. Bartolomeu seria a grande novidade destes anos, totalmente diferente na sua dimensão e concepção dos templos até aí existentes. Algo de profundamente moderno, que ponha Penafiel a par de tantas outras terras do reino que renovaram os que possuíam já ou construíram nesta época grandes santuários de peregrinação. “ … ”O santuário era o coroar da obra de expansão e modernização da cidade a que Manuel Pedro Guedes imprimira um ritmo acelerado que não deixou de ser criticado por alguns dos seus contemporâneos assustados com tantas mudanças que, pensavam, ultrapassavam largamente a capacidade de realização local. Este empreendimento, muito comum na época e hoje conhecido por Sameiro por associação com o seu congénere maior de Braga, deu mais uma vez razão aos cépticos, tal foi a morosidade dos trabalhos, desembocando na impossibilidade de cumprir o programa anunciado.”
“O local escolhido para implantar o novo tempo, o monte de S. Bartolomeu, Monte do Povo ou Monte da Forca, proeminente sobre a cidade e o vale do Sousa, espaço baldio, desempenhara antes as funções que a toponímia denuncia, acrescidas ainda da de Facho, outrora localizado no Calvário e para aqui mudado quando a urbanização atingiu fortemente o outro extremo da cidade. Fora do espaço urbano, o monte começava a ser abordado nas suas franjas por habitações que acompanhavam a estrada de Trás-os-Montes e a sua variante em direcção ao Tâmega.”


“Perante a necessidade de libertar o campo da Piedade da capela desta invocação e da dos Santos Passos para no espaço do antigo rossio construir o mercado público, a Câmara optou pela cedência às confrarias de 960 e 640 m2 respetivamente para neles reconstruirem os seus templos ou erguerem um novo, em conjunto.” … “Como o edifício se desejava grande e vistoso foi incentivada a união das confrarias. A planta, essa veio de Lisboa em 1885, oferecida por Manuel Pedro Guedes. Era de autoria do engenheiro Jorge Pereira Leite e incluía para além do desejado templo um chalet para turistas e um parque, bem ao gosto dos bosques românticos elaborados por arquitectos paisagistas. Este projeto parece, porém, uma adaptação muito simplificada, senão abastardada, do desenho inicialmente concebido pelo engenheiro Manuel Maria Ricardo Correia. Difícil seria encontrar na terra financiamento para uma obra de tal monta. Como reserva sempre disponível, lançou-se mão da sensibilização dos residentes no Brasil para que, com as suas contribuições, viabilizassem o empreendimento. Tudo o mais foi obtido por subscrições e donativos recebidos ao longo de anos, com picos de efervescência entremeados por longos períodos de desinteresse.”
“Longo e penoso iria ser o crescimento do templo. Em 1889 adjudicava-se as obras de pedraria, ao mesmo tempo que se iniciavam as plantações de árvores nos terrenos envolventes.” … “Em 1891 fechava-se o arco cruzeiro da capela-mor. Na sua cúpula trabalhava-se em 1893. O objectivo era terminar esta capela para nela se poder celebrar o culto. Também o adro estava a ser preparado e o monte embelezado com árvores de grande porte, uma gruta e duas pontes em madeira a ligar aos montículos vizinhos, uma delas sobre a avenida em construção.” … “No ano seguinte dá-se início á torre e, a meados de Setembro, no meio de uma imensa festa inaugura-se a capela-mor, colocando-se nela a imagem da Senhora da Piedade trazida em procissão desde a Matriz.” … “Em 1897 fechava-se o arco da porta e investia-se sobretudo no parque, criando-se atrativos e condições para ser frequentado. A canalização das águas e colocação de uma fonte na escadaria abaixo do adro, a construção dos lagos e a da escadaria de acesso atraíram ao local a população da cidade e os romeiros, todos indispensáveis à sobrevivência do projecto que demoraria ainda décadas a ser concluído.”

 
Em termos pessoais, vivi na casa do parque de 1967 até 1979. O Jardim do Sameiro era o jardim da minha casa, um imenso espaço de liberdade na minha infância. Já a Igreja do Sameiro parecia que existia ali desde sempre. Mas agora, após 30 anos de ter deixado a casa do parque, ao descobrir estes bilhetes postais ilustrados, constato como é fascinante observar como as coisas mudaram ao longo do tempo… A igreja ainda sem cúpula, o cruzeiro que se vê em primeiro plano e que terá sido mudado para trás da igreja muito antes dos anos 60, ficava mais ou menos no mesmo sítio onde colocávamos uma das balizas nos jogos de futebol, e o patamar logo abaixo das escadas da igreja não era ainda plano como o fizeram mais tarde.
A igreja e parque do Sameiro foram o esforço e a dedicação de uma população e cidade para construir uma obra maior que as suas posses mas do mesmo tamanho que o enorme sonho que levou à sua construção!