terça-feira, 18 de agosto de 2015

Migração para a Europa

Lembro-me de se ter falado, há talvez dez anos, de um livro (um ensaio sobre a evolução social futura), sobre uma migração para a Europa. Que devido à pobreza, aos conflitos, à desigualdade de oportunidades e como forma de protesto, uma gigantesca migração de populações que contornavam o Mediterrâneo, pelo Médio-Oriente, e se dirigiam para a Europa à procura de uma oportunidade!

A forma como se tem desenrolado a migração para a Europa é diferente mas a verdade é que vejo-a hoje como uma premonição. O desastre humanitário que decorre há meses, já teve uma tímida, e forçada pelas circunstâncias, resposta da EU mas continuam a perder-se vidas todos os dias e o problema está longe de estar resolvido. Talvez porque o problema tem uma enorme dimensão, e importa perceber as razões que estiveram na sua origem para se poder alterar as causas.

Uma das vertentes mais importantes do problema são os conflitos regionais, étnicos e religiosos. Só o tempo e uma evolução civilizacional nestas zonas, com a evolução das condições económicas e na educação, poderão ultrapassar as razões que estão na base destes trágicos conflitos.

Com a globalização e a abertura dos mercados, era suposto criar-se condições de crescimento e equidade no mercado internacional que permitissem a generalização da melhoria das condições económicas dos países do terceiro mundo, e assim as condições de vida na saúde, educação e sociais das populações. No entanto, o desenvolvimento e melhoria económica ocorreram sem abertura política de muitos desses regimes e sem melhoria das condições e direitos laborais. O quais, devido à concorrência, custaram a queda económica dos países ocidentais que, desde o início da globalização, têm crescimentos económicos muito baixos.

Com os problemas económicos, os países ocidentais apostam nas relações económicas com estes países emergentes, as quais só beneficiam as elites políticas desses países e deixam a grande maioria da população na miséria. Veja-se o caso de Portugal e Angola. Muitos desses países emergentes são autoritários, corruptos e mal geridos.

Isto reflete também uma crise de valores da sociedade ocidental, até há duas décadas atrás os países que não respeitassem os direitos humanos ou corruptos eram marginalizados, impunham-se sanções sobre a égide da ONU e limitavam-se as suas relações económicas. Hoje, só nos casos extremos de países que apoiam o terrorismo, são aplicadas essas sanções. Os interesses económicos e também os problemas económicos da última década têm feito esquecer os valores dos direitos humanos, da democracia e a justiça e o estado de direito.

As populações pobres dos países subsarianos e do Oriente vêm na Europa um futuro melhor que não encontram nos seus países. Mas é irónico como um processo que foi iniciado para a melhoria das condições de vida nos países do terceiro mundo, não teve de facto esse efeito e deixou a Europa numa situação difícil e com menos recursos para poder evitar a, que é considerada, maior tragédia de sempre no Mediterrâneo.

No início deste desastre humanitário, o primeiro-ministro de Malta Joseph Muscat, proferiu uma declaração que deve servir como o “acordar das consciências” dos líderes dos países europeus: “Está a desenrolar-se uma tragédia no Mediterrâneo, e se a União Europeia e o mundo continuarem a fechar os olhos, serão julgados da forma mais severa possível, tal como foram julgados no passado quando fecharam os olhos a genocídios enquanto os que viviam bem nada fizeram".


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