domingo, 11 de agosto de 2013

A igreja e parque do Sameiro.



Chocou-me ontem a afirmação do Francisco que o valor arquitetónico da igreja do Sameiro, em termos de interesse nacional, é zero. Pode não ser dos monumentos mais ricos em termos arquitetónicos comparativamente às igrejas Matriz, Misericórdia, de Paço de Sousa ou da de Cête, mas tem um valor histórico e sentimental incomparáveis. Nem oito nem oitenta, zero é que não! Passo a transcrever um breve trecho do capítulo Santuário da S. da Piedade e Santos Passos, retirado do livro Penafiel (Soeiro, Teresa; “Penafiel”, Editorial Presença, Cidades e Vilas de Portugal, pp 93 a 96) e que faz a história da sua construção.
“O santuário do Monte de S. Bartolomeu seria a grande novidade destes anos, totalmente diferente na sua dimensão e concepção dos templos até aí existentes. Algo de profundamente moderno, que ponha Penafiel a par de tantas outras terras do reino que renovaram os que possuíam já ou construíram nesta época grandes santuários de peregrinação. “ … ”O santuário era o coroar da obra de expansão e modernização da cidade a que Manuel Pedro Guedes imprimira um ritmo acelerado que não deixou de ser criticado por alguns dos seus contemporâneos assustados com tantas mudanças que, pensavam, ultrapassavam largamente a capacidade de realização local. Este empreendimento, muito comum na época e hoje conhecido por Sameiro por associação com o seu congénere maior de Braga, deu mais uma vez razão aos cépticos, tal foi a morosidade dos trabalhos, desembocando na impossibilidade de cumprir o programa anunciado.”
“O local escolhido para implantar o novo tempo, o monte de S. Bartolomeu, Monte do Povo ou Monte da Forca, proeminente sobre a cidade e o vale do Sousa, espaço baldio, desempenhara antes as funções que a toponímia denuncia, acrescidas ainda da de Facho, outrora localizado no Calvário e para aqui mudado quando a urbanização atingiu fortemente o outro extremo da cidade. Fora do espaço urbano, o monte começava a ser abordado nas suas franjas por habitações que acompanhavam a estrada de Trás-os-Montes e a sua variante em direcção ao Tâmega.”


“Perante a necessidade de libertar o campo da Piedade da capela desta invocação e da dos Santos Passos para no espaço do antigo rossio construir o mercado público, a Câmara optou pela cedência às confrarias de 960 e 640 m2 respetivamente para neles reconstruirem os seus templos ou erguerem um novo, em conjunto.” … “Como o edifício se desejava grande e vistoso foi incentivada a união das confrarias. A planta, essa veio de Lisboa em 1885, oferecida por Manuel Pedro Guedes. Era de autoria do engenheiro Jorge Pereira Leite e incluía para além do desejado templo um chalet para turistas e um parque, bem ao gosto dos bosques românticos elaborados por arquitectos paisagistas. Este projeto parece, porém, uma adaptação muito simplificada, senão abastardada, do desenho inicialmente concebido pelo engenheiro Manuel Maria Ricardo Correia. Difícil seria encontrar na terra financiamento para uma obra de tal monta. Como reserva sempre disponível, lançou-se mão da sensibilização dos residentes no Brasil para que, com as suas contribuições, viabilizassem o empreendimento. Tudo o mais foi obtido por subscrições e donativos recebidos ao longo de anos, com picos de efervescência entremeados por longos períodos de desinteresse.”
“Longo e penoso iria ser o crescimento do templo. Em 1889 adjudicava-se as obras de pedraria, ao mesmo tempo que se iniciavam as plantações de árvores nos terrenos envolventes.” … “Em 1891 fechava-se o arco cruzeiro da capela-mor. Na sua cúpula trabalhava-se em 1893. O objectivo era terminar esta capela para nela se poder celebrar o culto. Também o adro estava a ser preparado e o monte embelezado com árvores de grande porte, uma gruta e duas pontes em madeira a ligar aos montículos vizinhos, uma delas sobre a avenida em construção.” … “No ano seguinte dá-se início á torre e, a meados de Setembro, no meio de uma imensa festa inaugura-se a capela-mor, colocando-se nela a imagem da Senhora da Piedade trazida em procissão desde a Matriz.” … “Em 1897 fechava-se o arco da porta e investia-se sobretudo no parque, criando-se atrativos e condições para ser frequentado. A canalização das águas e colocação de uma fonte na escadaria abaixo do adro, a construção dos lagos e a da escadaria de acesso atraíram ao local a população da cidade e os romeiros, todos indispensáveis à sobrevivência do projecto que demoraria ainda décadas a ser concluído.”

 
Em termos pessoais, vivi na casa do parque de 1967 até 1979. O Jardim do Sameiro era o jardim da minha casa, um imenso espaço de liberdade na minha infância. Já a Igreja do Sameiro parecia que existia ali desde sempre. Mas agora, após 30 anos de ter deixado a casa do parque, ao descobrir estes bilhetes postais ilustrados, constato como é fascinante observar como as coisas mudaram ao longo do tempo… A igreja ainda sem cúpula, o cruzeiro que se vê em primeiro plano e que terá sido mudado para trás da igreja muito antes dos anos 60, ficava mais ou menos no mesmo sítio onde colocávamos uma das balizas nos jogos de futebol, e o patamar logo abaixo das escadas da igreja não era ainda plano como o fizeram mais tarde.
A igreja e parque do Sameiro foram o esforço e a dedicação de uma população e cidade para construir uma obra maior que as suas posses mas do mesmo tamanho que o enorme sonho que levou à sua construção!

terça-feira, 30 de julho de 2013

La légende du tour the france - La Belle Époque

A TVI 24 começou a passar este fim-de-semana a história dos 100 anos do Tour de France. Esta primeira parte retrata as décadas amadores do Tour com os ciclistas anónimos a pedalarem 18 horas seguidas e perto de 500 km em estradas esburacadas e poeirentas, unicamente com uma câmara de ar suplente e entregues a si próprios. Gostei particularmente das imagens da Belle Époque, imagens de uma beleza incrível dos primórdios do cinema, nas quais as pessoas olhavam a câmara de filmar com a mesma admiração e fascínio com que revemos agora, cem anos depois, essa época.

Estou curioso de ver a 2ª parte, a partir dos anos 60, o profissionalismo e o espetáculo mediático mas também o surgimento do doping que tem ensombrado o Tour. E o surgimento dos grandes ciclistas que marcaram a história do Tour. Na minha opinião, o Tour teve dois grandes nomes, Eddy Merckx, o campeão dos campeões, e Lance Armstrong o melhor ciclista num pelotão de dopados. A "belle époque" do tour já passou há muito tempo...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A crise política pode significar uma inflexão positiva



Esta crise política teve um aspeto muito positivo, obrigar a uma reformulação governamental e reorientar a linha política do governo. Mesmo apontando-se inúmeros erros ao governo, seria muito negativo desperdiçar estes dois anos de sacrifícios dos portugueses, e pode ser agora que se faça a reforma do estado e que consigamos cumprir com os objetivos para a Troika se ir embora no prazo de um ano.
Se foi uma atitude premeditada, para obter mais poder, para obter dividendos políticos futuros, Paulo Portas terá um espírito calculista e maquiavélico, mas se foi uma questão de princípios, se foi a última gota na falta de diálogo e prepotência do Primeiro-ministro, então acho uma atitude louvável. As questões que ficaram no ar é se ele pensou nas consequências para o país (interesse nacional) que a sua atuação colocou em causa e também ficou em causa a, já posta em causa muitas vezes, palavra de Paulo Portas.
Se pensou nas consequências para o país, ou é um visionário brilhante, considerando que está remodelação será positiva para o país, ou então é um irresponsável e calculista. Relativamente à palavra dele, os factos falam por si mas teve o condão de a ter perdido pela contrapartida da estabilidade governamental.
Finalmente, refiro os comentadores políticos. Aprecio muito o Eixo do Mal por exemplo, mas parece-me que em termos gerais a contundência das palavras e das análises causam sensação e têm muita audiência mas deveriam ser mais consequentes pois o objetivo deveria ser a crítica apontando as alternativas e o acerto nas previsões.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Os amigos da onça!

Não é surpresa total as revelações de Snowden e as notícias nos últimos dias com revelações sobre o sistema PRISM e as escutas dos EUA à União Europeia, Nações Unidas, embaixadas e sobre milhões de chamadas telefónicas, mensagens de texto e de correio eletrónico em vários países europeus. Há alguns anos atrás a revelação do sistema Echelon que tinha por objetivo analisar as comunicações a nível mundial, com o objetivo de procurar mensagens que representassem ameaças à segurança mundial, levantou a suspeita, inclusive, de incluir espionagem industrial.
As justificações que o sistema PRISM visa somente a vigilância contra o terrorismo tornam-se frívolas face aos alvos da espionagem. Desta forma é natural que cada vez mais os aliados de longa data nas guerras mundiais e na NATO questionem as intensões e a lealdade do aliado Americano.
Os europeus sempre apreciaram o espírito empreendedor e criativo da economia americana mas também sempre olharam com alguma desconfiança a mentalidade de cowboy dos americanos. O histórico espírito bélico que se traduziu numa economia de guerra permanente desde a guerra hispano-americana, traduz também um país dirigido por fortes interesses comerciais cujos esquemas de financiamento aos partidos e candidatos às eleições tornam estes dependentes e subjugados aos primeiros.
Nesta época de pós guerra fria os EUA viram-se de repente como única potência mundial e parecem hesitar em manter as mesmas estratégias e “armas” usadas contra o então bloco de leste, a relacionar-se de forma verdadeiramente livre e leal com o restante mundo democrático.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Os professores terão aderido à greve geral?

Num post que escrevi há uns dias atrás, questionava se os professores queriam uma situação de privilégio relativamente à restante administração pública. O decorrer do processo levou ao desenlace que eu previa. Os professores vão ter 40 horas semanais mas não aumentará a carga letiva, não mudará nada, e conseguiram a prorrogação da mobilidade até Fevereiro de 2015!... Quando o restante sector público a terá já este ano e nessa altura o mais provável é que o governo atual já não esteja no ativo.

Hoje questiono se os professores aderiram à greve geral. Acho que pelo menos já conseguiram o que queriam e estarão menos mobilizados.

Quando os governantes se esquecem da igualdade de tratamento e justiça igual para todos... Por outro lado o poder reivindicativo da greve dos professores tem, historicamente, vergado muitos ministros da educação.

domingo, 16 de junho de 2013

Os professores quererão uma situação de privilégio?



Um dos professores na manifestação de ontem, entrevistado por um canal de televisão, nomeou todos os ministros da educação que nos últimos 10 ou 15 anos foram vergados á força e vontade dos professores. É lamentável, mas esta posição demonstra que muitos professores (e os sindicatos) acham que podem ser privilegiados relativamente ao resto da administração pública, atingindo os seus objetivos através da força que constitui a greve que afete os exames e, no fundo, as vidas de milhares de estudantes.
Seria bem mais compreensível que a posição dos professores fosse manifestada de forma comum a todos os funcionários da administração pública na greve geral agendada.
No entanto, esta posição comum da administração pública deve, tal como os professores, ter em atenção a grave situação do país e que as medidas restritivas estão a ser impostas de fora pela troica, atravessamos um período em que não poderemos evitar os sacrifícios de todos. Também, não deverão querer privilégios relativamente ao setor privado mas, sempre que a comparação com o sector privado seja feita, deverão exigir que se compare também quando é o setor privado que tem os privilégios. Por exemplo quando se comparam vencimentos entre os dois setores, não se tem em conta os suplementos de vencimento (carro, subsídio de alimentação mais elevado, outros suplementos...) que as empresas dão aos seus trabalhadores porque existe um benefício fiscal mútuo. Os funcionários públicos não fogem 1 cêntimo aos impostos!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Um Longo Domingo de Noivado (Jean-Pierre Jeunet, 2004)

Por causa dos meus filhos, nos últimos 14 anos os filmes que melhor recordo de ver no cinema são os do Shrek e do Madagáscar!... Os filmes “a sério”, acabo por os descobrir uns anos mais tarde, quando passam na televisão. Foi o caso de “Um Longo Domingo de Noivado” ou no título original "Un long dimanche de fiançailles" de Jean-Pierre Jeunet de 2004.

É um filme belíssimo! Conta a história da busca incessante de uma jovem pelo seu noivo que desapareceu nas trincheiras do Somme durante a Primeira Guerra Mundial. Com uma produção ambiciosa, faz uma reconstrução histórica desde as trincheiras da 1ª Guerra Mundial à ambiência e poesia da Paris de 1920.

A luminosidade e as cores do filme são sublimes, fazendo lembrar os Bilhetes Postais Ilustrados do 1º quartel do século XX. O trailer a seguir deixa de fora as cenas mais brutais mas foi elaborado, antes de mais, como uma sequência de bilhetes postais ilustrados...





quarta-feira, 5 de junho de 2013